domingo, 23 de janeiro de 2011

Dicas de Leitura:

Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno
de Serge Latouche


"O conceito de decrescimento tem duas fontes: uma antropológica, que é a crítica antiga da economia, da modernidade e da base original do homo economicus e que teve sua glória nos anos 1970. A mensagem de Ivan Illich, de quem me considero discípulo, é a de que viveríamos melhor de outra maneira. Dito de outra forma, é desejável sair deste sistema que nos leva à catástrofe. O segundo momento da teoria do decrescimento, ligado, principalmente, à ecologia e ao relatório do Clube de Roma, é o da sua imperatividade por razões físicas. Devemos então unir o desejo e a necessidade. Podemos viver muito bem de outra maneira." Serge Latouche

"Fomos formatados pelo imaginário do 'sempre mais', da acumulação ilimitada, dessa mecânica que parece virtuosa e que agora se mostra infernal por seus efeitos destruidores sobre a humanidade e o planeta. A necessidade de mudar essa lógica é a de reinventar uma sociedade em uma escala humana, uma sociedade que reencontre seu sentido da medida e do limite que nos é imposto porque, como dizia meu colega Nicholas Georgescu-Roegen, 'um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito'." Serge Latouche


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A Terceira Margem: em busca do Ecodesenvolvimento
de Ignacy Sachs


A terceira margem alia as muitas aventuras e reviravoltas da vida de Sachs - que concebeu, há quase quarenta anos, o conceito de ecodesenvolvimento, origem da expressão "desenvolvimento sustentável" - com o rigor e a criatividade de suas ideias. O autor presenciou acontecimentos marcantes do século XX, como a diáspora judaica na Segunda Guerra Mundial, o socialismo real em construção no Leste Europeu (do qual participou), a ascensão do Terceiro Mundo, a afirmação do movimento ecológico. Suas andanças o trouxeram, nos anos 1940, para o Brasil, país que desde então é um dos eixos de seus estudos e onde tem numerosos discípulos. Levaram-no na década seguinte para a sua Polônia natal, depois para a Índia e a França, onde é professor desde 1968 e dirige o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo. Sempre atento aos efeitos perversos do mau desenvolvimento e em busca de soluções imaginativas que valorizem os recursos naturais, Sachs entende o desenvolvimento como a permanente interação entre a sociedade e a natureza, baseada em novas maneiras de produzir e consumir. Com a autoridade internacional que lhe valeu a participação em todos os grandes encontros internacionais sobre as relações entre economia e meio ambiente, e o convívio com os maiores cientistas e economistas do século XX, Ignacy Sachs puxa, em A terceira margem, o fio de sua vida.

Fonte: http://terradosaber.com/product_detail.asp?ProdId=IG0288
 

Carta do chefe indígena Seatle, em resposta ao Presidente dos Estados Unidos da América em 1854

Essas são palavras do índio Seatle, chefe dos Dwamish, tribo indígena dos Estados Unidos, no ano de 1854, quando respondeu ao presidente americano sobre proposta de compra de uma grande parte das terras pertencentes à tribo

Chefe Seatle

"O que ocorre com a Terra recairá sobre os Filhos da Terra.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como comprá-los?
Cada pedaço de terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte dela e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O grande chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Esta água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, devem ensinar as suas crianças de que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra para ele tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa.
A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque sou um selvagem e não compreenda. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se o homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa à noite? Eu sou homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô o seu primeiro inspirar também recebe o seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante do que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito, pois o que ocorre aos animais, breve acontecerá ao homem. Há ligação em tudo.
Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas: que a terra é nossa mãe.
Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra, isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará também a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir a nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do Homem e sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa e feri-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e que por alguma razão especial lhes deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa sejam impregnados do cheiro de muitos homens e a visão dos mortos obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.”


Texto distribuído pela ONU (Programa para o Meio Ambiente) e aqui publicado na íntegra.