O Decrescimento by Educar em Diálogo
"A terra é suficiente para todos, mas não para a voracidade dos consumistas" Mahatma Gandhi
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
terça-feira, 10 de julho de 2012
domingo, 1 de julho de 2012
Sustentabilidade é Acção: Vandana Shiva: 'Navdanya' - É nossa obrigação salv...
Sustentabilidade é Acção: Vandana Shiva: 'Navdanya' - É nossa obrigação salv...: New Gift | Supriyo Sen from Focus Forward Films on Vimeo . « Sabem quantos agricultores cometeram suicídio devido às sementes que c...
terça-feira, 22 de maio de 2012
Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada (2010)
O documentário The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada) de Cosima Dannoritzer 2011, com o título em português de Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada evidencia a prática da obsolescência programada (ou planejada) como o motor da sociedade de consumo, onde desde os anos de 1920 fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendas.
Para nosso espanto, logo nas primeiras cenas é contada a história de uma lâmpada incandescente que funciona ininterruptamente desde 1901 (111 anos). No entanto, o documentário revela que em 1924 formou-se o primeiro cartel do mundo, visando o controle na fabricação de lâmpadas, com o objetivo de que estas se tornassem menos duráveis, para que as pessoas não deixassem de consumir periodicamente. Com certeza, Thomas A. Edison não poderia imaginar, em 1881 quando pôs a venda sua primeira lâmpada, que seu invento científico seria alvo, a partir do surgimento do cartel Phoebus, de uma limitação técnica intencional, para que sua vida útil fosse de apenas 1000 horas.
O documentário dá alguns exemplos da obsolescência programada, utilizada, para diminuir a vida útil de impressoras da marca Epson, que, por exemplo, quando chega a uma determinada quantidade de páginas impressas, deixa de imprimir. Outro exemplo é a Dupont que descobriu uma fibra sintética revolucionária o nylon, no entanto, teve que tornar o material menos resistente e duradouro, para que continuasse havendo consumo. Além do caso das primeiras linhas do iPod, cuja bateria tinha a programação para durar aproximadamente 18 meses, incentivando a compra de outro aparelho por um novo.
O filme ainda mostra que a obsolescência programada surge quase ao mesmo tempo em que a produção em massa e a sociedade de consumo. Esse padrão iniciou-se desde a revolução industrial onde saiam das maquinas produtos mais baratos, portanto mais acessíveis, no entanto pouco duráveis.
É nos Estados Unidos, nos anos de 1950 que a obsolescência programada, atinge um aspecto mais ideológico quando pessoas, incentivadas pelo crescente design industrial e marketing, começam a sentir necessidade de ter algo mais moderno, mais novo e melhor que um bem de consumo que ainda não se encontrava danificado. O desejo de consumo impulsiona a comprar algo apenas para satisfação e não por necessidade, design e marketing incentivavam esse consumo, tornando essa a base da sociedade de consumo atual.
Essa lógica levou a um crescimento da economia, no entanto, sem um objetivo crescimento por crescimento, ou seja, a sociedade do crescimento, que está pautada em mecanismos como a publicidade, a obsolescência programada e o crédito. Percebemos que esta sociedade não é e nem pode ser sustentável, pois, baseia-se em uma contradição fulcral, a do nosso planeta ser limitado.
O filme ainda cita o exemplo da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que não possuidoras de um livre mercado, tipicamente capitalista, investiam na durabilidade de seus produtos industriais. A lógica era outra, ou seja, a obsolescência planejada só é possível em países capitalistas.
Essa obsolescência programada provoca, além do aumento da exploração dos recursos naturais e energéticos, no fluxo contínuo e aumentado da produção de lixo tecnológico. A maior parte desses resíduos de países europeus e da América do norte, com o pressuposto de ser material de segunda mão (na verdade são materiais fora de funcionamento) é enviado a países pobres, aumentando consideravelmente a quantidade de lixo nesses países, destruindo ecossistemas, antes intactos e servindo de meio de subsistência para pessoas em risco social, que vivem desses restos tecnológicos, em busca de metais para serem vendidos.
O documentário cita a preocupação de algumas empresas, que já se destacam por utilizarem uma nova proposta de engenharia, onde se questiona a obsolescência programada como obsoleta, se reapropriando das ideias de produzirem bens mais duráveis. Inclusive é dado o exemplo da fabricante de lâmpadas Philips, que produz lâmpadas de led mais econômicas e duráveis, do ponto de vista ecológico, no entanto, fica a dúvida, se essa empresa não faz dessa nova produção, apenas mais um bom negócio.
Provavelmente, a solução para a sociedade de consumo de crescimento está longe de apenas, pequenas adaptações ditas mais ecológicas e sustentáveis, como muitas empresas tem proposto, e sim numa mudança mais radical ao invés de um crescimento um decrescimento, uma verdadeira mudança de lógica, reduzindo o consumo e a produção, aumentando apenas o sentido de nossas próprias existências.
Fonte: http://eacritica.wordpress.com/2012/03/18/comprar-jogar-fora-comprar-a-historia-da-obsolescencia-programada/
terça-feira, 1 de maio de 2012
Especial do SBT: Produtos são fabricados para durar ou para quebrar?
A reportagem especial do Jornal do SBT mostra a
durabilidade dos produtos, que por mais que sejam multifuncionais tem um
período de duração reduzido. Por exemplo, quando surgiram as lâmpadas
duravam cerca de 2.500 horas, mas atualmente elas ficam acesas no máximo
1.000 horas.
A frase, "não se fazem mais produtos como
antigamente", pode ser verdade, pois eletrodomésticos e eletrônicos
feitos a partir do pós-guerra - década de 1950 - são feitos para
estimular o consumo.
Fonte: http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/?c=19063&t=Especial:+Produtos+sao+fabricados+para+durar+ou+para+quebrar?
sexta-feira, 27 de abril de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Como se faz uma revolução cultural. Artigo de Serge Latouche
"O decrescimento é uma arte de viver. Uma arte de viver bem, em acordo com o mundo. O objetor do crescimento é também um artista. Alguém para quem o gozo estético é uma parte importante da sua alegria de viver."
A reflexão é do economista e filósofo francês Serge Latouche, conhecido defensor do "decrescimento sustentável", em artigo para o jornal L`Unità, 25-02-2011. O trecho faz parte de seu livro Come si esce dalla società dei consumi. Corsi e percorsi della decrescita, Ed. Bollati Boringhieri, 2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A via do decrescimento é uma abertura, um convite a encontrar um outro mundo possível. Esse outro mundo nós o chamamos de sociedade do decrescimento.
O convite é a viver aqui e agora, e não em um hipotético futuro que, embora desejável, talvez não veremos nunca. Esse outro mundo, portanto, está também naquele em que vivemos hoje. Está também em nós. O caminho é também um olhar, um outro olhar sobre o nosso mundo, um outro olhar sobre nós. (…)
A "common decense"
A via do decrescimento é, portanto, acima de tudo, uma escolha. (…) É, em todo o caso, um caminho de saída da enorme decadência gerada pela sociedade do crescimento. Um caminho de saída para recuperar a estima de si mesmo. É o caminho para reconstruir uma sociedade decente. Uma sociedade decente, diz o ensaio, é uma sociedade que não humilha os seus membros. É uma sociedade que não produz lixo.
A via do decrescimento é também a "common decense" de George Orwell. A decência comum significa ter controle, estar atento, ser capaz de ter vergonha por aquilo que é feito ao mundo e às pessoas. "Ser desenvergonhado – diz Bernard Stiegler – significa ter se tornado incapaz de ter vergonha". A sociedade do crescimento é um mundo desenvergonhado, um mundo em que reina o desprezo. E o desejo de fugir do desprezo é uma aspiração universal (talvez a única verdadeiramente universal) que se realiza apenas nas sociedades decentes. A ausência de controle, a falta de atenção equivalem à ausência da decência comum definida por Orwell. Um mundo decente talvez não é mundo de abundância material, mas é um mundo sem miseráveis e sem sujeira. (…)
Quando dizemos que o decrescimento é um projeto político, entendemos que é também uma ética, porque, para nós, como para Aristóteles, a política não é concebível sem uma ética, e vice-versa, mesmo que seja oportuno não confundir os dois planos. Uma política que fosse apenas uma ética seria impotente ou terrorista, mas uma política sem ética (como a que vivemos principalmente a partir da reviravolta dos anos 90, do grande salto para trás neoliberal) vê o triunfo da banalidade do mal. (…)
A via do decrescimento é também o da emancipação e da conquista da autonomia. É a busca pela liberdade verdadeira e não da sua caricatura, a do hedonismo desenfreado e sem regras, proposta pela publicidade e pelo marketing e promovida pelo novo espírito do capitalismo, falsamente alegre e de fato mortífero. (...)
A via do decrescimento é uma saída de emergência do beco sem saída da imundialização [immondializzazione, jogo de palavras entre imundo e mundialização]. O caminho do crescimento é um exílio. É a travessia do deserto rumo à terra prometida, mas é também um oásis no deserto do crescimento. "A revolução – adverte Jérôme Baschet – não tem sentido se ela não é concebida, ao mesmo tempo, como uma festa, se é privada daquelas ocasiões tão importantes como um baile ou uma explosão de risos... É vão querer combater a alienação com formas alienadas... É preciso admitir a impossibilidade de conduzir uma verdadeira luta pela humanidade sem começar a perceber, no próprio processo dessa luta, a verdade da humanidade à qual se aspira, sem reconhecer o direito ao prazer e a necessidade de uma poesia que nada mais é do que o nome dado a uma existência verdadeiramente digna do homem".(...)
O decrescimento é uma arte de viver. Uma arte de viver bem, em acordo com o mundo. O objetor do crescimento é também um artista. Alguém para quem o gozo estético é uma parte importante da sua alegria de viver. (…) Fazer da sua própria vida uma obra de arte não é o objetivo, mas um dos resultados.
A via do decrescimento é uma ascese. Limitando-se ao aspecto curativo e à luta contra a toxicodependência do consumismo, pode-se retomar a ideia de Ivan Illich do "tecnojejum". O decrescimento é um exercício de emancipação das próteses técnicas, uma libertação da servidão voluntária e uma alienação à autonomia.
A via do decrescimento é uma conversão de si mesmo e dos outros. A conversão exigida para realizar a transformação social necessária e desejável pressupõe que se crie uma atitude de acolhida e de abertura a essa mudança. Essa educação é, ao mesmo tempo e indissoluvelmente, saber e ética, resistência e dissidência. (…)
A via do decrescimento é reconquista da realidade e da terra que é o seu princípio. Trata-se de habitar a terra como um território, um lugar de cumplicidade e de reciprocidade. De reencontrar a nossa intimidade com uma dimensão originária. "Hoje, uma linha de horizonte técnica – escreve de modo inspirado Xavier Bonnaud – separa o ser humano da fauna e da flora. Esses elementos que o ser humano tem afastado, enfraquecido e canalizado não produzem mais nele aquelas relações afetivas profundas que derivavam de um contato direto". (…)
A via do decrescimento é a da crítica livre. É a da autolimitação e não do desencadeamento sem freios das paixões tristes. O decrescimento quer retomar o programa de emancipação política da modernidade, enfrentando as dificuldades que a sua realização comporta. A experiência autenticamente democrática instaura uma experiência de transcendência do homem no homem que permite sair das aporias do igualitarismo. Como diz o filósofo belga Robert Legros: "Reconhecer uma limitação dos poderes do homem que não seja uma autolimitação significa claramente admitir uma heteronomia no centro da autonomia. Interpretar essa limitação como uma norma inscrita na humanidade do homem, e não como uma norma de origem religiosa, significa tentar compreender o sentido de uma heteronomia propriamente democrática".
Se o decrescimento e o projeto de construção de uma sociedade autônoma realizam o sonho de emancipação dos Iluministas e da modernidade, não fazem isso por meio de uma desvinculação da ligação com a natureza e do enraizamento na história, mas, ao contrário, reconhecendo a dupla herança da nossa naturalidade e da nossa historicidade. É preciso lutar contra a ilimitação do indivíduo e da sua relação com a natureza que pretendemos criar.
A via do decrescimento é essa luta. A via do decrescimento é uma emancipação da religião do crescimento. Requer, portanto, necessariamente, também um "descrer". É preciso abolir a fé na economia, renunciar ao ritual do consumo e ao culto do dinheiro. Para os teólogos Alex Zanotelli, Pe. Achille Rossi, Pe. Luigi Ciotti e Raimon Panikkar, assim como para Ivan Illich ou Jacques Ellul, a sociedade do crescimento apoia-se sobre uma estrutura de pecado.
Contrariamente à fórmula desventurada da encíclica Populorium progressio, o desenvolvimento não é o novo nome da paz, mas sim o da guerra, guerra pelo petróleo ou pelos recursos naturais em via de exaurimento. Na sociedade do crescimento, não haverá nunca mais nem paz nem justiça. Ao contrário, uma sociedade do decrescimento trará novamente ao seu próprio centro a paz e a justiça.
Não queremos cair na ilusão de uma mítica sociedade perfeita, em que o mal seria erradicado definitivamente, mas sim inventar uma sociedade dinâmica, que enfrenta as suas inevitáveis imperfeições e contradições, dando-se como horizonte o bem comum, ao invés da avidez desenfreada. A via do decrescimento não é uma religião nem uma antirreligião: é uma sabedoria.
Para os objetores do crescimento, a busca dessa via é um dever, mas não é um imperativo categórico de tipo kantiano, embora assumamos o imperativo kantiano assim como reformulado por Hans Jonas: "Age de modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a terra".
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