Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada (2010)
O documentário The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada) de Cosima Dannoritzer 2011, com o título em português de Comprar, jogar fora, comprar: A história da obsolescência programada evidencia a prática da obsolescência programada (ou planejada) como o motor da sociedade de consumo, onde desde os anos de 1920 fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendas.
Para nosso espanto, logo nas primeiras cenas é contada a história de uma lâmpada incandescente que funciona ininterruptamente desde 1901 (111 anos). No entanto, o documentário revela que em 1924 formou-se o primeiro cartel do mundo, visando o controle na fabricação de lâmpadas, com o objetivo de que estas se tornassem menos duráveis, para que as pessoas não deixassem de consumir periodicamente. Com certeza, Thomas A. Edison não poderia imaginar, em 1881 quando pôs a venda sua primeira lâmpada, que seu invento científico seria alvo, a partir do surgimento do cartel Phoebus, de uma limitação técnica intencional, para que sua vida útil fosse de apenas 1000 horas.
O documentário dá alguns exemplos da obsolescência programada, utilizada, para diminuir a vida útil de impressoras da marca Epson, que, por exemplo, quando chega a uma determinada quantidade de páginas impressas, deixa de imprimir. Outro exemplo é a Dupont que descobriu uma fibra sintética revolucionária o nylon, no entanto, teve que tornar o material menos resistente e duradouro, para que continuasse havendo consumo. Além do caso das primeiras linhas do iPod, cuja bateria tinha a programação para durar aproximadamente 18 meses, incentivando a compra de outro aparelho por um novo.
O filme ainda mostra que a obsolescência programada surge quase ao mesmo tempo em que a produção em massa e a sociedade de consumo. Esse padrão iniciou-se desde a revolução industrial onde saiam das maquinas produtos mais baratos, portanto mais acessíveis, no entanto pouco duráveis.
É nos Estados Unidos, nos anos de 1950 que a obsolescência programada, atinge um aspecto mais ideológico quando pessoas, incentivadas pelo crescente design industrial e marketing, começam a sentir necessidade de ter algo mais moderno, mais novo e melhor que um bem de consumo que ainda não se encontrava danificado. O desejo de consumo impulsiona a comprar algo apenas para satisfação e não por necessidade, design e marketing incentivavam esse consumo, tornando essa a base da sociedade de consumo atual.
Essa lógica levou a um crescimento da economia, no entanto, sem um objetivo crescimento por crescimento, ou seja, a sociedade do crescimento, que está pautada em mecanismos como a publicidade, a obsolescência programada e o crédito. Percebemos que esta sociedade não é e nem pode ser sustentável, pois, baseia-se em uma contradição fulcral, a do nosso planeta ser limitado.
O filme ainda cita o exemplo da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que não possuidoras de um livre mercado, tipicamente capitalista, investiam na durabilidade de seus produtos industriais. A lógica era outra, ou seja, a obsolescência planejada só é possível em países capitalistas.
Essa obsolescência programada provoca, além do aumento da exploração dos recursos naturais e energéticos, no fluxo contínuo e aumentado da produção de lixo tecnológico. A maior parte desses resíduos de países europeus e da América do norte, com o pressuposto de ser material de segunda mão (na verdade são materiais fora de funcionamento) é enviado a países pobres, aumentando consideravelmente a quantidade de lixo nesses países, destruindo ecossistemas, antes intactos e servindo de meio de subsistência para pessoas em risco social, que vivem desses restos tecnológicos, em busca de metais para serem vendidos.
O documentário cita a preocupação de algumas empresas, que já se destacam por utilizarem uma nova proposta de engenharia, onde se questiona a obsolescência programada como obsoleta, se reapropriando das ideias de produzirem bens mais duráveis. Inclusive é dado o exemplo da fabricante de lâmpadas Philips, que produz lâmpadas de led mais econômicas e duráveis, do ponto de vista ecológico, no entanto, fica a dúvida, se essa empresa não faz dessa nova produção, apenas mais um bom negócio.
Provavelmente, a solução para a sociedade de consumo de crescimento está longe de apenas, pequenas adaptações ditas mais ecológicas e sustentáveis, como muitas empresas tem proposto, e sim numa mudança mais radical ao invés de um crescimento um decrescimento, uma verdadeira mudança de lógica, reduzindo o consumo e a produção, aumentando apenas o sentido de nossas próprias existências.
Fonte: http://eacritica.wordpress.com/2012/03/18/comprar-jogar-fora-comprar-a-historia-da-obsolescencia-programada/